As greves na saúde têm
uma caraterística muito especial, que as diferencia de outras. Na verdade, os que
a sofrem são as pessoas que estão internadas ou com cirurgias e tratamentos
marcados e que ficam fortemente afetadas com as paralisações.
As greves na saúde
deveriam ser diferentes: os médicos ou enfermeiros deveriam trabalhar na mesma,
mostrando desse modo o cuidado que dão aos doentes, mas deveriam recusar o
dinheiro dos dias de greve. Tudo sem prejuízo de um período de tempo,
relativamente curto, para vir cá fora falar com a comunicação social, expondo
as suas razões.
Procedendo assim,
mereciam todo o respeito e teriam, do seu lado, não só os doentes, como os
cidadãos em geral, ficando o Governo numa situação muito mais difícil.
Os cidadãos seriam
informados das razões da greve e estariam, seguramente, a apoiar os médicos e
enfermeiros grevistas.
Dir-se-á que esta forma
de greve não seria a mais eficaz. Discordamos.
Teriam muito mais força,
pois teriam a opinião pública do seu lado, desde que os motivos fossem
razoáveis. Todos estamos de acordo que médicos e enfermeiros devem ser bem pagos,
dentro das nossas possibilidades.
A greve tradicional é
sempre injusta, pois faz padecer aqueles que não têm culpa e que se encontram
numa situação de muita fragilidade.
O Governo, por sua vez,
pouco sofre, podendo apontar aos profissionais de saúde grevistas a
desumanidade do seu comportamento e colocar a opinião pública contra eles.
(E já se reparou que a
informação sobre as razões destas greves é deficiente? As pessoas ficam sempre
com a ideia de que o que está em causa é mais dinheiro. Mas de dinheiro
precisam todos os funcionários e não só os que fazem greve. Frequentemente, quem
menos recebe na função pública, menos condições tem para organizar uma greve).
Uma greve, fazendo sofrer
quem está doente ou quem precisa de cirurgias, consultas ou tratamentos só se
poderia justificar numa situação extrema, em que os próprios doentes e seus familiares
a compreendessem perfeitamente, dando-lhe apoio.
Entretanto, nos hospitais
privados não há greves. Quem tem dinheiro resolve os seus problemas e, por
isso, se pode dizer que as greves nos hospitais públicos são greves contra os
mais desprotegidos.
(Artigo de opinião publicado no Diário do Minho de 21-09-2017)